Vidas em Português
Língua materna em vários lugares do mundo -
Brasil, Portugal, Goa (Índia), Moçambique, Angola, Guiné Bissau, Macau (China) e
Japão - a Língua Portuguesa é garantida com uma variedade de culturas e de
realidades sociais, políticas, que influem na vida dos falantes.
O uso da língua portuguesa em diferentes
culturas é o tema do documentário "Língua: Vidas em Português", primeiro
longa-metragem do moçambicano radicado no Brasil, Vitor Lopes, que aborda
particularmente a pluralidade cultural da língua portuguesa. Este documentário é
desenvolvido a partir de uma análise feita do ponto de vista dos próprios
falantes, que também representam a seu modo de ser, a sua língua e sua situação
cultural, social e ideológica nos diferentes locais nos quais vivem. Entre as
pessoas envolvidas, estão estudantes moçambicanos habitantes de Portugal, um
cozinheiro brasileiro que vive em Tóquio, indianos que vivem em Goa, entre
outros. Ilustres personalidades como os brasileiros Martinho da Vila e João
Ubaldo Ribeiro, os portugueses Teresa Salgueiro e José Saramago, o escritor
moçambicano Mia Couto se mesclam aos anônimos de todas as partes do mundo
mostrando, mediante as ações do cotidiano, a relação que eles têm com a língua,
Segundo José Saramago, há línguas portuguesas e
não uma só língua portuguesa. Essas línguas são, ao mesmo tempo, iguais e
diferentes. Sabemos que a linguagem dos seres humanos passou de um estado
primitivo e foi se tornando um sistema bastante complexo. As línguas estão
sempre em constante modificação/evolução, conforme a realidade do falante. Ela
se adapta ao momento: é viva. Em se tratando da língua portuguesa, pensá-la como
uma entidade homogênea não é cabível.
Seria relevante se nesse documentário houvesse
um olhar filológico de um linguista, que pudesse analisar as diferenças de
sintaxe, pronúncia e léxico dos falantes. Seria interessante se a Linguística
(estudo da linguagem humana) tivesse atuado, já que ela observa e interpreta os
fenômenos linguísticos e com isso depreende os princípios fundamentais que regem
a organização e funcionamento das línguas, neste caso, a portuguesa. Dessa forma
poderia ser desenvolvido um trabalho ressaltando as diversidades como, por
exemplo, o linguajar do pastor evangélico e vendedor ambulante do Rio de
Janeiro, o falar do escritor João Ubaldo, os dizeres e cantares de Martinho da
Vila, as preciosas construções de Saramago.
Como a obra apresenta riquezas linguísticas,
explorar os diferentes discursos, os dialetos proporcionaria um valioso trabalho
também na área da semântica (estudo do significado em todos os sentidos do
termo) e da pragmática (estudo da linguagem no contexto de seu uso na
comunicação). Teríamos certamente belas pesquisas a serem vistas, discutidas,
apreciadas.
Professora Daiane Fagherazzi
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